segunda-feira, 8 de setembro de 2008

1983-1986: Volta ao Mundo em Bicicleta

A "féria" entre a viagem à Espanha e a volta ao mundo duraram cinco meses, tempo em que o aventureiro aproveitou pra buscar apoio.

Encontrou esse apoio em ninguém menos que o então presidente da República, João Baptista Figueiredo, que se dizia seu grande admirador. No dia 15 de janeiro de 1983, Zé do Pedal partia de Viçosa para uma viagem de quatro anos, sua meta principal, a Copa do Mundo México'86.

A viagem pelo continente americano ocorreu ao contrario da primeira, com bastante tranqüilidade. O ciclista ainda se deu ao luxo de correr e ganhar, na categoria estrangeira, a maratona comemorativa aos 447º aniversário da cidade de Lima ,Peru. Ao cruzar para o velho continente, já não teve problemas com a imigração inglesa e, fora um pequeno acidente em Goteburgo, na Suécia, e algumas quedas sem importância, tudo saiu como o planificado. Quando José Geraldo estava na Itália morreu seu maior ídolo, Indira Gandhi, uma pessoa que ele tinha a intenção de conhecer, quando chegasse à Índia. "Para mim, Indira foi uma das maiores mulheres que passou pela face da terra, era uma pessoa muito mística, poderosa e humilde. Ela deixou um vazio muito grande e bem difícil de ser preenchido".

A etapa seguinte seria o Norte da África e a Ásia, Paquistão, Índia Nepal, Sri Lanka, Bangladesh e Birmânia. Na Tailândia, antigo reino de Sião, pode apreciar as coisas mais bonitas da viagem, como as maravilhosas praias de Pukett e Pataya, as paradisíacas ilhas de Kho-Samui e a celebre ponte do Rio Khuay-Ai.

A convite do ministério de Defesa da Tailândia, esteve uma semana no campo de refugiados de vietnamitas Kao-I-Dan, onde escutava tiros vindos de perto da fronteira entre Vietnam e Tailândia, os refugiados gritavam horrorizados, tinham medo, muito medo, de que o pesadelo que eles estavam vivendo não terminasse jamais. Cada dia que eu passava ali era como se tivesse vivendo um século de uma guerra absurda, que ao final só deixou destruição e morte. No meu último dia no campo, uma pequena refugiada vietnamita de seis anos, órfã, com câncer, uma vítima a mais das bombas químicas lançadas ao azar em qualquer parte sobre o Vietnam, chegou perto de mim e me perguntou com os olhos em prantos e a simplicidade que só a crianças tem, "Farani (estrangeiro), o que é a paz? Naquele momento não pude responder, e até hoje não tenho a resposta!" diz, perplexo.

Todas as maravilhas que tinha conhecido durante a viagem, desde a saída de casa, não foram suficientes para tirar de seus pensamentos o sofrimento e desespero daquela criatura e dos milhares de seres humanos (?) jogados naquele campo de concentração, como se fossem uma coisa descartável.

Mas a vida continua e José Geraldo tinha que continuar a viagem, Malásia, Singapura, Indonésia, Filipinas, Hong-Kong, Macau, China, Japão... No país do sol nascente, como ultima escala de sua volta ao Mundo (dali ele voaria aos EUA e depois seguiria para o México para assistir a Copa), o ciclista tinha preparado uma "pequena coisa grande": cruzar os 2,500 km da ilha principal, em um velocípede de criança. Quando chegou a Tóquio, assustou com o tamanho dos velocípedes que eles tinham. Teve que se contentar com um pequeno carrinho, doado pela loja de brinquedos Toy Park Ginza Rakuninkam.

Foram 107 dias, viajando de 25 a 30 km diários. Viajar a 5 km por hora, foi uma linda e apaixonante loucura. Quando passavam por mim, os moradores locais sorriam e me davam força para continuar. Eu tinha o carinho e o respeito daquele povo tão amável, assegura.

No México, de novo a seleção do Brasil ficava no meio do caminho. Uma vez mais Zé do Pedal voltava para casa sem ver a seleção com o tetracampeonato.

Uma viagem para esquecer:

Ao voltar ao Brasil, Zé do Pedal realizou, em 1987, uma viagem do Chui até Brasília, também em velocípede. "O objetivo da viagem era chamar a atenção de nossos políticos para as crianças do Nordeste (Constituinte, dê uma chance para o Nordeste). "Foi meu pior projeto. Apanhei de um policial no Rio Grande do Sul, em um posto de gasolina (que me confundiu com bandido, e, primeiro bateu pedindo depois meus documentos), levei tapas e cuspidas na cabeça por pessoas que passavam em carros, e, o pior dos resultados: até hoje o Nordeste continua esquecido, sendo apenas lembrado nas épocas de eleições.